* Mário da Cunha Brito

* Mário da Cunha Brito

por Luis Fernandes

Mário da Cunha Brito, ou Mário Cunha

Pioneiro, empreendedor e benemérito.

Não há Gabelense que se não recorde da firma Mário Cunha, com instalações administrativas, comércio e armazém comercial em frente ao Sporting, na Rua com o mesmo nome (a Rua Mário da Cunha Brito começa (va) no largo em frente à Estação de Caminhos de Ferro e terminava no Largo da Polícia).

Na Rua que dá acesso à Igreja, no prédio verde, habitavam a gerência, Srs. Simões e Rolão Preto, bem como alguns dos funcionários administrativos.

A acrescentar as instalações administrativas e armazéns gerais para exportação situados em Novo Redondo e Porto Amboim.

As mais de 50 fazendas ou roças/sede mais as dependências ou fazendas satélites das primeiras, estavam voltadas para a produção e exportação centrada no café e no palmar.

Acessóriamente e para consumo dos mais de 30.000 trabalhadores, produziam ainda milho, feijão e os mais variados produtos destinados à alimentação.

Todas as Fazendas/sede, tinham instalações administrativas, enfermaria, posto médico, centro de saúde ou hospital segundo o seu grau de importância ou volume de trabalhadores.

Possuiam ainda moagem de farinha de milho, fábrica de óleo de palma e preparação de coconote, descasque de café com as mais modernas máquinas de descasque, calibragem, escolha e ensacagem do café comercial, repartido pelas várias referências aceites no mercado internacional.

Em quase todas as fazendas, para usufruto gracioso dos vários trabalhadores independentemente do seu tom de pele ou residentes nas povoações vizinhas, Para além da assistência médica, ambulatória ou medicamentosa, havia ainda um posto de ensino básico, em alguns casos até à quarta classe.

Na Nova Ereira, fazenda, para alguns, modelo, havia um Hospital de referência para onde eram transferidos os trabalhadores acometidos de doenças mais graves ou vítimas de acidentes de trabalho. Farmácia, laboratório de análises, salas de parto e operações cirúrgicas, várias enfermarias e quartos com uma capacidade de mais de cem camas compunham ainda as valências desse Hospital no “mato”.

Falo com conhecimento de causa por ter passado grande parte da minha infância e adolescência por essas terras.

As Fazendas Calemba, Quipungo, Nova Ereira, Congulo e Quipuco onde o meu pai trabalhou.

Fazenda David no Quirimbo e Fazenda Maria Alice onde, com 17 anos, fui empregado de escritório, e ainda responsável pelo terreiro de secagem, descasque, escolha, calibragem e ensacagem de café comercial para exportação.

Em frente ao Hospital Central da Nova Ereira, na Fazenda com o mesmo nome, havia um Busto semelhante ao que se encontra à entrada da Fundação Mário da Cunha Brito em S. Pedro de Alva.

A Fazenda Quipungo, fazenda enorme que, se juntarmos as várias dependências satélite, das quais o Massango era a maior, produzia café suficiente para manter activa ao longo de todo o ano, qualquer torrefadora nacional nos tempos actuais.

Completo a minha apreciação sobre a identidade do sr. Mário da Cunha Brito com os textos a seguir e extraídos da página oficial da Fundação Mário Cunha Brito.

http://www.fmcb.pt/fundacao_patrono.html

1959 - Marco histórico na vida de São Pedro de Alva!

São Pedro de Alva e toda a região da Casconha estão em festa.

O inacreditável acontece!

Um filho da terra, dotado de grande generosidade e altruísmo, institui em memória de seu pai, uma Fundação que para além de outras valências com: hospital com bloco operatório, consulta externa, maternidade e cantina escolar.

Dota-a ainda de património próprio que à data assegurava a auto – suficiência da Fundação.

Objectivo: Servir uma população rural que, à época rondava os 3000 habitantes e revelava grandes carências económicas.

A Fundação inicia então um período fluorescente com particular destaque na área da saúde.

Incontáveis consultas externas! Muitas intervenções cirúrgicas! Inúmeros partos!

Quantos adultos de hoje aqui nasceram!

Com o evoluir da medicina, exige-se maior concentração dos recursos e dos meios auxiliares de diagnóstico.

Mudam-se os tempos mudam-se as necessidades.

A população jovem emigra e os adultos vão envelhecendo.

Sempre atenta, a Fundação adapta-se e redirecciona a sua acção para a área social, com particular ênfase para a terceira idade.

Hoje possui

Um moderno e modelar Lar de Idosos.

Um Centro de Dia para Idosos em S. Pedro de Alva

Um Centro de Dia para Idosos em Oliveira do Mondego

Uma Clínica de Fisioterapia e Medicina de Reabilitação

Uma Creche em construção

Presta

Serviço de Apoio domiciliário a idosos nas 5 Freguesias do Alto Concelho de Penacova.

Apresentou candidatura

À construção de um Centro de Dia para Idosos em São Paio do Mondego e à construção de uma Unidade de Cuidados Continuados em São Pedro de Alva.

Volvidos 50 Anos e, respeitando a matriz de solidariedade e assistência definida pelo fundador, a Fundação cresceu e desenvolveu-se. Continua a cumprir o seu desígnio e é hoje uma Instituição de referência.

S. Pedro de Alva

A mais antiga referência escrita sobre S. Pedro d’Alva remonta ao século XII, sob o nome de Farinha Podre, que conservou até lhe ser dado o nome actual e, com este nome, foi sede de concelho entre 1836 e 1853.

Paço Velho é o nome que se dá ainda hoje ao primitivo núcleo habitacional de S. Pedro d’Alva. A partir deste núcleo foi-se organizando a vida social e económica de toda a vila. Ergueu-se depois, na pequena colina situada a alguma distância do Paço, o outeiro no, lugar ainda hoje ocupado pela Igreja Matriz.

S. Pedro de Alva é hoje uma das onze freguesias do Concelho de Penacova e dista 35 quilómetros da sede doDistrito - Coimbra.

Esta Freguesia tem sido berço de personalidades ilustres do nosso país.

É o caso do Dr. António José de Almeida, que foi Presidente da Republica (1919 - 1923) e ainda Mário da Cunha Brito filho predilecto e grande benemérito desta freguesia.

Mário da Cunha Brito, Patrono da Fundação

Mário da Cunha Brito, jovem natural de S. Pedro de Alva e filho de gente humilde, partiu para África em busca de fortuna, cheio de esperança no futuro, deixando para trás a mãe e uma irmãzita.

Foi assim, que um dia, nos alvores do século XX, um rapaz de 15 ou 16 anos, embarcou com outros, em idênticas condições, com destino a Angola.

Casou aos 22 anos de idade com a Sr.a D. Zenóbia Vieira de Brito, filha e neta de honrados colonos oriundos do Algarve, e de quem lhe nasceram dois filhos.

Com a ajuda de sua esposa, viu os negócios prosperarem a tal ponto que, dentro em pouco, se tornava sócio-gerente de uma das mais importantes empresas comerciais e agrícolas da fértil região de Novo Redondo e Amboim.

Apartando-se desta sociedade, fundou em 1929 na região de Novo Redondo e Amboim, a “Firma Mário Cunha Lda“. Nenhuma contrariedade ou insucesso conseguiu alguma vez arrefecer o seu entusiasmo.

Lançou-se na execução de um novo plano de trabalhos, investindo, todo o seu dinheiro em roças. As cotações dos produtos ultramarinos, entre as quais as do café, apresentavam-se baixas, com a crise que todo o mundo sofria.

Durante muitos anos, comprou e plantou quanto pôde. Algumas vezes, lastimando-se da atribulada vida que levava, ouviu de amigos recriminações azedas, mas reagindo, replicava sempre com este seu estribilho: "Deixem lá, descansem e não se aflijam; quando um dia o café vier a ter o dobro do preço actual, ficarei rico!".

Com grande espírito de sacrifício, vontade indómita de vencer, possuidor de grande inteligência e honestidade, prosperou e ficou rico. Não esquecendo as suas origens, Mário da Cunha Brito quis criar em S. Pedro de Alva uma obra de beneficência para dar assistência médica e social a toda a população da sua terra natal, na grande maioria pobre.

Contava 63 anos de idade quando este grande homem desapareceu sem conseguir realizar a obra com que tanto sonhava.

Maurício Vieira de Brito, Instituidor da Fundação

Eng. Maurício Vieira de Brito nasceu em Novo Redondo, Angola, em 06/03/1919, filho de Mário da Cunha Brito e de Zenóbia Ramos Vieira de Brito, e faleceu em Lisboa, em 08/08/1975.

Licenciou-se em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia de Lisboa.

Casou-se em 1944 com Sra. D. Rita Angélica de Rollão Preto Santos Marques Vieira de Brito, de cujo casamento nasceram 3 filhos. Dirigiu o império empresarial criado por seu pai, desde a morte deste em 1953 até ao seu próprio falecimento em 1975. Presidiu à Direcção do Sport Lisboa e Benfica, desde 1957 até 1962, sendo ainda hoje recordado como um dos melhores presidentes que passaram pelo Clube tendo este, durante a sua Presidência, alcançado duas Taças dos Clubes Campeões Europeus. Ao Eng. Maurício Vieira de Brito também o Clube deve, em grande parte, a construção do 3º Anel e a iluminação do anterior estádio.

Foi o Sr. Engenheiro Maurício Vieira de Brito, que a 4 de Março de 1959 deu corpo e vida à Fundação Mário da Cunha Brito, em homenagem à memória de seu pai, como Instituição Particular de Utilidade Pública Local, dotada de personalidade jurídica, com fins humanitários, caritativos e educacionais, visando especialmente o proteger, na infância, na adolescência, na velhice, na maternidade e na doença, os indigentes e os pobres naturais e residentes na Freguesia de S. Pedro de Alva, ou simplesmente residentes, com preferência pelos que reunissem aquelas duas condições, e, quando necessário e sem prejuízo destes, os das freguesias de Travanca do Mondego, Paradela da Cortiça, S. Paio do Mondego e Oliveira do Mondego.

O Engenheiro Maurício Vieira de Brito mandou restaurar os altares da Igreja Matriz de S. Pedro d’Alva onde foi baptizado, assim como a Capela de Santo António.

Deve-se-lhe ainda a construção da rede de distribuição domiciliária de água.

 

Hospital Central da Nova Ereira... dos tempos actuais.

Estas duas alas de um edifício em cruz, remete-nos para a real dimensão do conjunto hospitalar

Foto da autoria do amigo Aníbal Dinis